Trans-humanismo é compreendido como o período atual onde se opera uma transição (concretizada através dos recursos disponibilizados pelos avanços científicos e tecnológicos) para uma nova era pós-humana ou pós-biológica. A condição humana vista como algo a ser superado, cedendo lugar a uma condição pós-humana. Todavia esta mudança não ocorrerá por meio de transformações biológicas ou naturais realizadas pelo processo evolutivo, mas através da intervenção tecnológica e artificial realizada pelo homo faber. Este, em tempos modernos, se tornou fabricante da história que se orienta para o futuro, alguém que interfere nos rumos dos acontecimentos em busca de os controlar ou os alterar, não mais se sujeitando a aguardar passiva ou religiosamente que o destino ou a providência determinem o curso das coisas.
A era pós-humana é aguardada por trans-humanistas como uma realização escatológica. Escatologias desempenham o papel nas narrativas míticas das religiões como o oposto das cosmogonias, mas também como algo que justifica a estas. Ou seja, se as escatologias descrevem a forma como um cosmo que se tornou decrépito chegará ao fim, as cosmogonias descrevem a gênese ou criação do cosmo. Em outros, termos, o velho cosmo chega ao fim, experimenta a aniquilação escatológica, para ceder lugar ao novo. Assim, o trans-humanismo é uma espécie de escatologia tecnognóstica.
Embora orientado por uma lógica religiosa, o trans-humanismo é um fenômeno que se situa na secularidade moderna. E é exatamente sobre a recorrência destes fenômenos na Modernidade que este livro se ocupa. O modo como a consciência secularizada dos modernos oculta uma inconsciência religiosa.