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Autoria: Max Jacob
Tradução: Luiz Dantas
Dimensão (cm): 15,5 x 21 x 1,5
Peso (g): 385
Ano de Publicação: 2018
Número de Páginas: 248
Encadernação e Acabamento: Brochura com baixo-relevo
ISBN: 9788569002345
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O gabinete negro é uma compilação de cartas, em sua maior parte fictícias, criada pelo romancista, poeta e pintor francês Max Jacob (1876-1944), figura central no cenário das vanguardas parisienses do início do século XX. A obra, inédita no Brasil, representa um dos melhores exemplos da estética cubista na literatura.
A seleção de cartas, publicadas em 1922 e posteriormente aumentada em 1928, são, segundo o professor Pablo Simpson, especialista na obra de Jacob e autor do posfácio da edição brasileira, “um espaço de criação intelectual admirável”. O escritor situa as missivas em épocas diversas – do século IX ao XX –, e assume diferentes registros de texto – da mãe para a filha, do pai para o filho, da empregada para a patroa, até uma bula papal do século IX –, numa multiplicação de escritas tecida habilmente pelo autor, como analisa Simpson.
As cartas quase não têm relação entre si, o que distancia o livro do formato tradicional dos romances epistolares. Há todo tipo de queixa, pedido, conselho, descrição e declaração nos textos assinados por personagens variados. Não é difícil perceber nesses fragmentos a possibilidade de desdobramento em novelas e romances, e de fato alguns personagens estão presentes em outras obras de Jacob.
As missivas são, em boa parte, seguidas de comentários de autoria desconhecida, indicando a existência de um terceiro leitor, ao qual o título do livro se refere: o “gabinete negro” era o serviço de espionagem do Antigo Regime, que interceptava e abria cartas por ordem governamental para detectar trechos comprometedores ou ameaçadores da “ordem”. Diante desses comentários, o leitor final, com o livro em mãos, se depara com o próprio voyeurismo.
Os efeitos cômicos são inevitáveis a partir da tensão entre as formalidades da escrita epistolar e o conteúdo das mensagens, cheias de pequenas intrigas e grandes desaforos. A primeira carta do volume já evidencia esse dispositivo: nela, um pai furioso comunica ao filho que deixará de custear os seus estudos depois que o jovem rouba sua amante. Noutra, uma senhora desgostosa com os costumes modernos da capital francesa recomenda à filha os melhores modelos de vestimenta para uma dama da sociedade. Religiosos e juristas entram em cena para tratar de supostos desvios morais de moças libertinas e rapazes vadios.
O autor se oculta sob os personagens e, sempre com a intenção de juntar peças que ora esclarecem, ora confundem o leitor, constrói um mosaico cheio de arestas e confrontos, em chave de sátira de costumes. O jogo de simulações é tal que duas das cartas presentes no volume são verídicas e, no entanto, como observa Pablo Simpson, parecem as mais inverossímeis.
O gabinete negro começou com uma reunião de seis cartas publicadas numa revista de tiragem limitada em 1922. Teve nova edição, aumentada, em 1928, e ganhou forma definitiva, com mais cinco cartas, em 1968. Esta é a versão utilizada nesta edição. Embora nunca lançada no país, a literatura de Jacob, lida no original francês, despertou entusiasmo em alguns de seus contemporâneos modernistas brasileiros, como Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda, que saudava o “realismo fino e aristocrático” do autor.
A versão em português de O gabinete negro – cartas com comentários é de Luiz Dantas, que foi professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp). Falecido em 2008, deixou inédita a tradução. Sua família doou os direitos de sua publicação para um hospital filantrópico especializado em oncologia e hematologia pediátrica de Campinas (SP). O posfácio é de Pablo Simpson, professor do Departamento de Letras Modernas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto (SP).
O projeto gráfico, de autoria de Paula Astiz, inspira-se na leitura clandestina empreendida pelo Gabinete Negro do Antigo Regime: para que o leitor consiga ler os comentários, precisa manipular as páginas, com dobras escondidas, como se estivesse abrindo e fechando as cartas – assim como faziam os censores franceses.